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Entenda o que já se sabe sobre a vacina contra a covid-19 em crianças
Desde que soube da possibilidade da vacinação em crianças contra a covid-19, a psicóloga Taís Oliveira, 33 anos, espera pelas doses das duas filhas – Maria Flor, 8, e Analu, de 1 ano e 7 meses. Antes mesmo de alguns países autorizarem, ela já tinha tentado até cadastrar a mais velha em um dos estudos com crianças voluntárias para testes dos imunizantes disponíveis.
Assim como Taís, mães, pais e responsáveis em todo o Brasil estão ainda mais ansiosos porque, nos últimos dias, duas farmacêuticas têm feito movimentos importantes para a liberação da imunização neste público: na semana passada, a Pfizer oficializou o pedido à Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) para vacinar crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19. O imunizante baseado em RNA mensageiro já é usado em adolescentes. O pedido está em análise e o órgão regulatório tem 30 dias para decidir.
Além disso, há a expectativa de o Instituto Butantan fazer o mesmo a qualquer momento nas próximas semanas, para o público dos 3 aos 17 anos. Segundo a Anvisa, não há pedidos em aberto atualmente, mas o instituto deve realizar o protocolo formal solicitando a ampliação de uso apresentando estudos de eficácia e segurança, incluindo dados clínicos de fase 3 de testes.
Em agosto, o Butantan fez o primeiro pedido, que foi negado porque a Anvisa avaliou que havia limitação dos resultados apresentados na ocasião. De lá para cá, porém, a vacina já foi aplicada em mais de 70 milhões de crianças e adolescentes em países como Chile, Colômbia e China, de acordo com o Butantan, que tem se reunido com a agência nas últimas semanas. Em todo o mundo, ao menos 10 países já vacinam crianças (menores de 12 anos) contra a covid-19, incluindo Estados Unidos, Chile, China, Argentina e Emirados Árabes Unidos, com diferentes imunizantes.
Entre os especialistas, a lista de razões para vacinar crianças contra a covid-19 é longa. Para o imunologista, pediatra e alergologista Celso Sant’Anna, a primeira é a necessidade de diminuição da circulação do vírus.
Controle
Apesar de a vacina para crianças ser um dos maiores alvos de fake news, as principais entidades científicas e médicas já se posicionaram a favor da vacinação desse público. Em setembro, o Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou um documento ressaltando a importância da imunização para prevenir doenças e proteger a comunidade.
No texto, a SBP afirma que, ainda que as crianças tenham frequência menor de covid-19 sintomática do que adultos, espaços frequentados por elas, como escolas e centros de esportes juvenis podem representar fontes importantes de surtos e transmissão, mesmo com a vacinação de adultos. De fato, as crianças são menos acometidas por covid-19 e costumam ter quadros mais brandos.
Em Salvador, por exemplo, só 2% dos casos foram de crianças com idades até 9 anos, mas o índice dobra na faixa etária dos 10 aos 19 anos. No entanto, não é possível desprezar as mais de duas mil mortes de crianças por covid-19 no Brasil, como reforça o pediatra Eduardo Jorge, doutor em Saúde Materno-Infantil e membro do Departamento Científico da SBP.
Daí vem outro aspecto importante. Com o avanço da vacinação entre os adultos e adolescentes, as crianças acabam se tornando potenciais ‘vetores’ que facilitam a transmissão, já que não estão protegidas. “Elas podem transmitir a covid e transmitem para seus contactantes. Não será possível termos o controle da covid sem a gente ter as crianças devidamente vacinadas”, reforça o médico, ressaltando que cerca de 25% da população brasileira é composta por crianças e adolescentes.
Composição
Ao contrário do que muita gente imagina, a vacina da Pfizer usada em crianças não é igual a que vem sendo aplicada em pessoas com mais de 12 anos. Enquanto a de adolescentes e adultos tem 30 µg, a de crianças terá apenas 10 µg – ou seja, um terço do imunizante original. Nos dois casos, porém, trata-se de uma imunização em duas doses com intervalo de 21 dias.
Nos testes feitos pela farmacêutica, a vacina teve eficácia de cerca de 90% com o público pediátrico. Os ensaios compararam doses maiores, mas a menor se mostrou mais segura, além de ter conseguido ativar o sistema imune e reduzido o risco de infecção, segundo a imunologista Viviane Boaventura, pesquisadora da Rede Covida e da Fiocruz.
Já a Coronavac, por sua vez, é tradicionalmente considerada uma das vacinas mais seguras do mercado, por ser feita com um vírus inativado. Ainda de acordo com Viviane, essa é uma das tecnologias mais antigas e conhecidas de desenvolvimento de imunizantes. Os estudos de fases 1 e 2 indicaram que 96% dos participantes produziram anticorpos.
Por Correio24horas