ENTREVISTA
‘Vamos ter um crescimento da direita nestas eleições’, prevê cientista político Antonio Lavareda
_Cientista político Antonio Lavareda. _ Crédito foto: Carlos Ezequiel/Divulgação
* Por Rodrigo Daniel Silva
Um dos principais cientistas políticos do país, Antonio Lavareda, aposta que o campo da direita sairá mais fortalecido nas eleições municipais deste ano, que começam oficialmente no dia 16 de agosto.
‘Vamos ter um crescimento da direita nestas eleições’, prevê cientista político Antonio Lavareda. Especialista afirma que os prefeitos de capitais, incluindo Salvador, devem ser reeleitos neste ano
Ele acredita ainda que a tendência é que os prefeitos de capitais – como Salvador – que buscam a reeleição, sejam reconduzidos no dia 6 de outubro.
O especialista, que é doutor em Ciência Política e presidente do Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), explica que estes gestores são favoritos porque estão bem avaliados e possuem o controle da máquina municipal.
Lavareda também afirma que a disputa deste ano terá impacto na seguinte, em 2026, sobretudo, na eleição da Câmara dos Deputados. Também terá reflexo na configuração das alianças políticas do pleito presidencial.
VEJA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA :
O que podemos esperar das eleições 2024?
– Até agora, o que se observa das muitas pesquisas realizadas é uma taxa de reeleição elevada nas capitais e demais cidades. Talvez, não alcance o montante de 2020, da última eleição, porque aquela eleição teve a particularidade da pandemia (da covid-19). Foi uma eleição monotemática. Discutiu o que os prefeitos tinham feito (durante a crise sanitária) ou deixado de fazer com relação ao combate à covid. Agora não, é uma eleição com uma pauta mais ampla. Talvez, nós não tenhamos o mesmo percentual de reeleição de 2020. Que percentuais foram esses? Para o conjunto das cidades brasileiras, onde os prefeitos foram candidatos ou puderam ser candidatos à reeleição, essa taxa foi de 63%. Nas capitais, das 26, essa taxa chegou a 77%. Então, o que a gente espera neste momento? As pesquisas apontam que nas capitais, 60% dos prefeitos estão liderando. Dos 20 prefeitos, que são candidatos à reeleição, 12 estão à frente na disputa. É possível que se mantenha e pode ser ampliado um pouco. No conjunto do país, ainda não há um número de pesquisa suficiente para nós fazermos apostas. Mas, provavelmente, essa taxa de reeleição será elevada.
O senhor acredita que o presidente Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro vão conseguir impactar nas eleições deste ano?
É natural. Os presidentes, as lideranças políticas nacionais, sempre impactam. Agora, impactar não é a mesma coisa que determinar os resultados eleitorais. Eu não acredito que o apoio vai determinar o resultado eleitoral. Isso é muito importante. Obviamente, o peso desse apoio é tanto maior quanto mais votos um dos dois candidatos (Lula ou Bolsonaro) obteve em 2022. Há muitos municípios no Brasil nos quais o Bolsonaro teve mais de 60% dos votos no segundo turno. Aí ele vai ter um peso muito grande, a mesma coisa com o presidente Lula. Mas naqueles municípios em que a diferença ficou igual ou menor do que 10% entre um e outro, provavelmente, o apoio deles é importante, mas nunca será decisivo.
“Presidentes sempre impactam. Agora, impactar não é a mesma coisa que determinar os resultados eleitorais”, diz Lavareda
A tendência é a direita ou a esquerda sair fortalecida desse processo eleitoral?
-Nessa eleição, eu acho que o PT dá sinais, pelo que se vê nas pesquisas, de alguma recuperação, mas não é uma forte (recuperação). E tem, do outro lado, o declínio de um partido de centro do passado, o PSDB. Pelo que as pesquisas mostram vai declinar bastante em relação ao que obteve em 2020. Nesse espaço aberto, avançam os partidos de centro-direita e também o PL. O PL vai registrar um crescimento expressivo.O PL não fez nenhuma capital em 2020. Agora, nas pesquisas, ele lidera em cinco capitais. Nós temos G105, que são as 105 cidades com mais de 200 mil eleitores. Se excluídas as capitais desses 105, são 79 cidades.O PL está em primeiro lugar na maioria delas, em oito cidades. Ou seja, cresceu bastante em relação a 2020. Se você agregar por campos, parece que nós vamos ter um crescimento da direita nestas eleições municipais.
Ao que atribui a dificuldade do PT em ter nomes competitivos nas capitais?
– Ausência de renovação, em primeiro lugar. O PT declinou bastante na eleição de 2016 e perdeu 60% das prefeituras que tinha conseguido eleger em 2012. E desde lá o processo de renovação tem sido, digamos, lento ou incipiente. Ou pouco visível. Na Câmara Federal, o partido é uma das bancadas com média de idade mais elevada. Então, o PT sofre um problema de renovação, com certeza. Isso o torna menos competitivo. Tem hoje uma capacidade menor de se aproveitar das circunstâncias de estar na presidência da República, como ocorreu por exemplo em 2004. O PT cresceu expressivamente em 2004 depois que chegou à presidência do Lula I. Hoje, não promete repetir, pelo menos com tanta força, aquele resultado.
O senhor disse que a tendência nas capitais é a reeleição, inclusive, em Salvador. Por quê?
– Esse favoritismo está associado à avaliação das administrações. Tem dois fatores que explicam isso. Primeiro, prefeitos bem avaliados. Segundo, a chamada vantagem do incumbente. O incumbente não só nas eleições municipais, como nas estaduais e nas nacionais, tem uma vantagem diferenciada. Ele controla a agenda, tem uma taxa de exposição desde o primeiro dia do mandato. Ele consegue fazer grandes coligações nas câmaras municipais para apoiar as administrações, e essas coligações de apoio administrativo se transformam em coligações eleitorais. Quando o incumbente é bem avaliado, ele corre para o abraço.
Qual a sua opinião sobre acabar com a reeleição?
– O ciclo administrativo de quatro anos é considerado curto. Se parar e pensar que os prefeitos tomam posse, ajeitam suas equipes seis meses antes da próxima eleição já tem desincompatibilização de quem vai ser candidato. Então, na verdade, tem três anos e meio de mandatos. É considerado um tempo muito curto. Então, a oportunidade de reeleição é uma coisa natural. Lembrar que esse Congresso, que discute a reeleição de prefeitos, não discute a reeleição de deputados. Deputados se reelegem quatro, cinco, às vezes seis vezes. O que pode ser considerado um absurdo. Na disputa, eles também têm vantagem de incumbente. Hoje, eles têm além de fundo eleitoral privilegiado, têm essas primeiras parlamentares astronômicas e isso faz com que sejam competidores em condições muito superiores a de adversários comuns.
“A eleição de 2026 começa esse ano porque a correlação entre votação para prefeito e para deputado é muito elevada”, avalia Lavareda.
A eleição deste ano terá reflexo em 2026?
– Sobretudo, na eleição da Câmara Federal. A eleição de 2026 começa esse anoo entre votação para prefeito e votação para deputado federal, quando contempla agregado dos posicionamentos partidários-ideológicos, é muito elevada. Então, com certeza, terá forte impacto na eleição de deputado federal. Como dessa eleição emergirá um quadro de forças diferenciadas, essa eleição já vai ter impacto na mudança ministerial, que é natural que aconteça no governo Lula 3 e deve ocorrer após a eleição. Também na configuração das alianças com relação à eleição presidencial.
No mundo inteiro, as lideranças políticas têm sofrido com baixas aprovações. Por quê?
– Isso é fruto deste cenário mais polarizado. O mundo enfrenta também tempos difíceis. Veja a economia americana, europeia. Nós tivemos a crise econômica e financeira em 2008. O mundo foi na década subsequente se recuperando, mas em 2020 mergulhou em um processo de pandemia que durou três anos. Desorganizou o fluxo de comércio, as economias nacionais, resgatou processos inflacionários. Isso tudo tem impacto e aumenta as dificuldades da governança e reflete na taxa de aprovação dos governantes no mundo.
Para resolver a crise da democracia será necessária a regulação das redes sociais?
– É fundamental regulamentar, como no passado ocorreu com as mídias tradicionais. Há muito tempo, a televisão não pode ser utilizada indiscriminadamente para a disseminação de fake news, que sempre existiu. Toda a mídia tradicional foi enquadrada e precisa ocorrer nas redes sociais também.
O eleitor hoje leva mais em consideração a pauta de costumes do que a situação da economia na hora do voto?
– Não. Aí depende da eleição. O eleitor das cidades, como na eleição deste ano, vai estar mais preocupado com serviço no posto de saúde, com a limpeza pública, a iluminação, os buracos na rua, com a segurança, que cada vez mais é uma pauta das prefeituras. Então, vai estar mais preocupado com isso do que com a pauta de costumes. Ou seja, quem é a favor das drogas ou quem não é. Isso pode existir, mas será absolutamente secundarizado.
Neste ano, teremos também eleição nos EUA. Uma eventual vitória do republicano Donald Trump fortalece o bolsonarismo no Brasil?
Fortalece a extrema direita no mundo todo, inclusive, no Brasil.
* Correio