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COVID-19

O guia atualizado de cuidados contra a covid-19: entenda o que ainda continua válido

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Alguns protocolos, como lavar as compras, se tornaram obsoletos; outros se mostraram mais importantes

Quantas vezes, desde março do ano passado, você ouviu que “todos os protocolos seriam respeitados” em um evento ou local, como forma de proteção contra a covid-19? Provavelmente, perdeu a conta. De repente, essa palavra – protocolo – estava em todos os lugares. Até em casa, os “protocolos” começaram. A lista de cuidados era grande: lavar todas as compras do mercado, desinfetar sapatos ou deixá-los do lado de fora, tomar banho e lavar a roupa assim que chegasse em casa.

Quem não fizesse tudo isso provavelmente estava sendo irresponsável. Ao menos, essa era a leitura que se tinha na época, quando tudo era tão novo. Mas assim como repetir que o respeito aos protocolos seria garantido virou clichê (até porque, em muitas situações, esse respeito não acontecia), muitos desses cuidados foram revistos ao longo desse período de pandemia.

Nos últimos meses, cientistas e profissionais de saúde têm explicado como deve ser a relação com essas medidas a partir de agora. É possível até dividi-las em três grupos: algumas são extremamente importantes e ganharam ainda mais protagonismo, outras não são relevantes no combate à covid-19 em si, mas podem continuar em nossas vidas por higiene ou pela saúde em geral e, por fim, há um terceiro grupo que pode ser descartado sem problemas nem grandes riscos.

Na semana passada, a prefeitura de Salvador suspendeu a obrigatoriedade de aferir a temperatura em estabelecimentos comerciais. Na ocasião do anúncio, o prefeito Bruno Reis chegou a explicar que, apenas nos shoppings, onde mais de 1,2 milhão de pessoas passaram pelas barreiras, menos de 100 foram identificadas com temperatura acima de 37,5ºC.

Segundo a infectologista Fernanda Grassi, doutora em Imunologia e pesquisadora da Fiocruz/Rede Covida, essa é uma das medidas que acabavam não sendo tão efetivas.

Isso da temperatura pode ser importante em aeroportos, portos, locais de viagem, eventualmente, como algo a mais. Só que não é tão eficaz porque tem muitas pessoas assintomáticas e que não vão ter febre”, explica.

Superfícies
Logo no começo da pandemia, pouco ou nada se sabia sobre o Sars-cov-2, o vírus da covid-19. Por isso, havia um movimento que era realmente no sentido de ‘pecar pelo excesso’, como analisa o pesquisador Ramon Saavedra, doutorando em Saúde Pública pelo Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (Ufba). No entanto, o vírus acabou se mostrando muito transmissível.

“Na época, era válido ter essa preocupação, porque a gente ainda não sabia o que estava acontecendo”, lembra. No entanto, ainda no ano passado, os primeiros estudos foram mostrando o contrário. “Eles indicavam que a sobrevivência e a viabilidade do vírus na superfície para transmitir a outras pessoas não eram tão significativas”, explica.

Aos poucos, os cientistas foram identificando que a principal forma de transmissão da covid-19 é pelo ar. Por isso é que, ao mesmo tempo que alguns cuidados vinham se mostrando tão eficazes, outras medidas – individuais e coletivas – se tornavam ainda mais importantes.

Se comparado a outros países, contudo, é possível dizer que o Brasil perdeu tempo demais com cuidados obsoletos. Para a infectologista e imunologista Fernanda Grassi, o país precisava de uma orientação central que partisse do Ministério da Saúde para estados e municípios, especialmente porque o Brasil tem dimensões continentais, que podem atrasar esse tipo de mudança.

Antes da covid-19, isso nunca havia sido um problema. “Se você não tem propaganda, campanhas maciças instruindo a população, fica difícil. Cada estado, cada município fez  do seu jeito. Isso levou, como consequência, a esse caos que a gente viu no Brasil, com mais de 600 mil mortos”, pondera.

Tripé da prevenção
Em primeiro lugar nesse grupo imprescindível, está a vacinação. À medida que mais pessoas completam o esquema vacinal com duas doses (ou a dose única, para quem tomou a Janssen), maior a segurança, já que a vacina é uma estratégia coletiva.

Em seguida, há o chamado ‘tripé da prevenção’, como explica o físico Vitor Mori, doutor em Engenharia Biomédica e pesquisador do Observatório Covid-19.

“São três pontos: o primeiro é ter ventilação para ambientes fechados e dar prioridade a ambientes ao ar livre. O segundo é usar máscaras de boa qualidade bem ajustadas, como as PFF2 e o terceiro é o distanciamento físico, lembrando que não existe distância mágica. Não é que você está 100% protegido com 1,5 m de distância e não está com 1,4 m, mas quanto maior o distanciamento, melhor”, orienta.

Caso algum desses três pontos não possa ser cumprido, o ideal é tentar garantir que os outros dois aconteçam. Se alguém está em uma situação em que não pode ter distanciamento físico, por exemplo, o foco deve ser na ventilação e no uso de máscara.

Para Mori, é preciso priorizar políticas de incentivo às pessoas para que elas saiam de espaços fechados, dando preferência a locais abertos. No entanto, o risco não deixa de existir nesses ambientes também. “O ponto mais crítico no espaço aberto não é exatamente a aglomeração ou o número de pessoas, mas a forma como as interações se dão. O pior é a interação face a face por período prolongado”, explica o cientista.

Em toda a Bahia, cerca de dois milhões de pessoas que poderiam tomar as vacinas contra a covid-19 não tomaram nenhuma das doses. Agora, é importante chamar essas pessoas para a vacinação – especialmente quem sequer começou o esquema, como reforça a biomédica e neurocientista Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Covid.

“Não é tarde e tem vacina disponível. A pessoa não precisa sentir vergonha, nem medo de ser julgada. Dá tempo e é importante que essas pessoas se vacinem também. Mas, mesmo vacinadas, tem que continuar com os cuidados”, completa.

Que cuidados ainda valem contra a covid-19?

Desde o início do ano passado, cientistas de todo o mundo estudam o Sars-cov-2. Por isso, a cada nova descoberta, os protocolos são atualizados. Alguns, porém, além de continuarem, se tornaram ainda mais importantes. Entenda o que aconteceu com cada medida de prevenção proposta no início da pandemia.

Ainda é preciso lavar as compras do mercado, encomendas e até as sacolas que trazem as compras?
Não. Essa recomendação caiu com a comprovação de que é muito improvável que ocorra o contágio por superfícies (como tocar os itens do mercado). “Foi uma coisa que a gente avançou, embora tenha gente que ainda faça isso e diga que ‘prefere’ fazer. Claro que lavar as mãos continua sendo muito importante e é hábito que continua além do coronavírus, mas não é o caso das superfícies”, diz a infectologista e imunologista Fernanda Grassi.

Esse avanço no conhecimento foi porque já é conhecido que a principal forma de transmissão é pelas vias aéreas. “A superfície pode ser importante em determinados locais que tenham aerossóis e partículas, se você tocar e depois levar a mão aos olhos, ao nariz ou à boca. Mas é um modo de contaminação secundário e, quando você usa máscara, evita esse tipo de coisa”, acrescenta Fernanda.

Preciso tomar banho, lavar os cabelos e as roupas assim que voltar para casa, depois de sair para qualquer lugar?
Se você quiser. Mas não necessariamente isso vai te proteger mais. “Particularmente, depois que volto para casa, ainda mais depois de pegar algum transporte, lavo minhas roupas porque tenho esse hábito. Mas se a pessoa está com alguma roupa que não pode lavar na hora , como um casaco, por exemplo, pode deixar um tempo no sol”, ensina a biomédica e neurocientista Mellanie Fontes-Dutra.

Desde o início da pandemia, na verdade, alguns especialistas defendem que não era preciso lavar a roupa toda vez, como lembra a médica cardiologista Lucélia Magalhães, coordenadora do curso de Medicina da UniFTC em Eunápolis. “Você só deve ter cuidado se foi num lugar onde não podia manter o distanciamento e era fechado, mas pode deixar essa roupa no sol, num lugar ventilado, por algumas horas”, ensina.

Por que não é mais necessário aferir temperatura ao entrar em estabelecimentos ou empresas?
No início da pandemia, as chamadas barreiras sanitárias – que chegaram a ser implementadas até na entrada de municípios baianos –  foram importantes, na avaliação do pesquisador Ramon Saavedra, do ISC. “O intuito era tentar se antecipar à circulação do vírus. Isso foi bem aceito porque era o início da pandemia”, lembra. Era uma tentativa, portanto, de rastrear casos quando o vírus não estava em transmissão comunitária em todo o estado.

No entanto, logo essa medida ficou desatualizada. Segundo o físico Vitor Mori, a questão ia além do debate entre aferir no pulso ou na testa. “A febre é um sintoma muito pouco específico. Pessoas que estão com febre podem não estar com covid, enquanto muitas com covid podem estar pré-sintomáticas ou assintomáticas”, pondera. Além disso, havia um custo com esses equipamentos. “Você também acaba expondo a pessoa que está aferindo a temperatura, porque ela tem contato intenso com outras pessoas. É uma medida pouco efetiva que pode ser retirada com tranquilidade”, acredita.

Tenho que deixar os sapatos do lado de fora quando chegar em casa?
Essa é uma das medidas que podem não fazer diferença para o coronavírus, mas podem ser incorporadas como um cuidado à saúde de forma geral. Para a biomédica e neurocientista Mellanie-Fontes Dutra, trocar o sapato ao chegar em casa é um bom hábito que pode ser mantido. “É importante para o vírus? Talvez não, mas é importante para o ambiente da casa, especialmente se você tem criança pequena. São cuidados que não são exatamente para o coronavírus, mas para sua saúde”, completa.

E quanto ao uso de talheres em locais públicos? Preciso levar meus próprios talheres quando for a um restaurante?
Não precisa. Talheres, de forma geral, já são de uso individual. “Qualquer gotinha de sabão com água já elimina o vírus rapidamente. Não precisa levar de casa. Agora, tudo deve ser particular. Não se deve dividir garfo, faca, guardanapo com alguém”, reforça a cardiologista Lucélia Magalhães, professora de Medicina da UniFTC Eunápolis.

Faz diferença usar faceshield (escudo facial)?
O faceshield ainda pode ser usado como uma proteção adicional. No entanto, nunca deve ser usado sem máscara, como ressalta o físico Vitor Mori. É a máscara – desde que bem ajustada ao rosto – que vai filtrar o ar. O faceshield não traz nenhuma barreira. “Ele é muito pouco efetivo sem a máscara. Não deve ser usado sem ela em hipótese alguma”, reforça.

Ainda devemos jogar fora máscaras cirúrgicas após duas horas de uso ou lavar máscaras de pano após duas horas de uso?
Sim, a orientação quanto às máscaras não mudou. Esse tempo é indicado porque são elas que fazem a filtragem. No entanto, hoje, há uma preocupação maior com o uso de máscaras de melhor qualidade, se a pessoa tiver como fazer isso. “Não é qualquer máscara, mas de preferência uma PFF2, que tem maior possibilidade de filtrar”, diz a biomédica Mellanie Fontes-Dutra. As máscaras do tipo PFF2/ N95 conseguem reter melhor as gotículas.
Um estudo da Universidade Duke, nos EUA, avaliou 14 tipos de máscaras faciais no ano passado e classificou a N95 (como esse modelo é chamado nos EUA) como a melhor delas.

Devemos usar luvas de procedimento?
Essa nunca foi uma recomendação, embora muitas pessoas tenham adotado. De acordo com a cardiologista Lucélia Magalhães, da UniFTC, as luvas podem piorar a situação, por trazer uma falsa sensação de segurança. Por outro lado, aquelas luvas plásticas descartáveis que são oferecidas em restaurantes de bufê livre ainda podem ser boas aliadas. “Ali, você está pegando num talher que muitas pessoas vão usar”, explica a médica.

Adianta instalar aquelas barreiras de acrílico em mesas de restaurante e áreas de trabalho de escritórios?
Essa é outra medida ineficaz. De acordo com o físico Vitor Mori, elas podem até barrar o fluxo de ar numa determinada direção, mas acabam refletindo o ar para trás. “Em alguns casos, isso pode ser prejudicial porque cria bolsões onde o ar não circula e as partículas podem ficar acumuladas por muito tempo. Então, ela pode funcionar em alguns contextos, mas também pode aumentar o risco em outras situações. Pelo alto investimento que isso envolve, não compensa.”

As crianças ainda não podem ser vacinadas. Que protocolos valem para elas?
Continua valendo a tríade de prevenção. Daí, o cenário pode variar dependendo da idade, como explica a biomédica e neurocientista Mellanie Fontes-Dutra. “Com crianças mais velhas, a gente pode sentar, conversar sobre a importância de lavar as mãos, por exemplo. Se ela vai brincar com alguém e pode não ter distanciamento, é importante que elas estejam ao ar livre e de máscara”, diz.

Crianças muito mais novas, que não podem usar máscara, acabam dependendo muito dos pais e do restante da família. “Entra a nossa parte. Se a criança não consegue ter uma proteção individual adequada, o coletivo precisa estar protegido. Se o ambiente que a circunda está protegido, ela vai estar também”, completa.

Precisamos pulverizar ruas para eliminar o vírus?
Não. O vírus se dissipa muito rapidamente em ambientes abertos e bem ventilados, fazendo com que eles sejam naturalmente mais seguros. “Aqueles fumacês a céu aberto são completamente desnecessários. É uma perda de tempo e dinheiro”, diz Vitor Mori.

Ainda precisamos usar álcool em gel com frequência?
Claro, por uma questão de saúde em geral. Essa é uma das medidas que podem ser incorporadas como um hábito após a pandemia. Usar álcool em gel é muito importante para a prevenção, mas ele não é mais importante do que a vacina ou a máscara, por exemplo.

“O álcool gel foi muito efetivo e importante e esperamos que seja adotado como praxe mesmo, que a gente conviva com essa prática de maneira mais intensa”, opina o pesquisador Ramon Saavedra, do ISC.

Por Correios24horas

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